quarta-feira, 8 de abril de 2020

A Incompatibilidade entre Burros e Minas...




A fotografia que aqui deixo é um 'déjà vu' nos jornais e redes sociais destes últimos dias. Estas últimas, apressadas como sempre e mentirosas como habitualmente, logo inventaram uma história que colaram à fotografia como tratando-se de soldados que atravessavam um campo minado perto do qual andaria o burro. Ora, os soldados, com receio de que o burro começasse aos pinotes campo adentro e fizesse explodir as minas matando-se e matando-os a eles, preferiram pegar no jumento em ombros e levá-lo a campo seguro para evitar males maiores.
A história seria engraçada se fosse verdade, mas não é verdade e não resistiu à investigação sumária de alguns jornalistas que a investigaram e desmistificaram. Tratava-se afinal de um jumento que soldados da legião francesa encontraram, eventualmente perdido, e transportaram para o seu aquartelamento, algures na Argélia, onde foi muito bem tratado e adoptado como mascote.
Em abono de um bom fim para a história, diga-se que qualquer das versões, a das minas ou a da mascote, assentava bem ao burro, porque ambas, afinal, lhe teriam salvado a vida.
Mas há historietas que dão óptimas metáforas para a vida, e esta é uma delas.
Vive a humanidade um momento crucial da sua história. Ou seja estamos num campo cheio de minas e, ao mínimo descuido, pisamos uma delas e "BUM", vamos pelos ares, quer dizer, somo atingidos em cheio por este vírus que não conseguimos ver, cheirar, ouvir ou sentir e, quando o conseguimos fazer, já é tarde porque já nos atingiu, ficando por saber com que sequelas iremos ficar para a vida.
Esta é a nossa condição actual. Mas, para a agravar, estando em pleno campo minado damo-nos conta que temos por companhia uns quantos burros selvagens à solta que decidiram por bem brincar aos pinotes e zurrar a parvoíce habitual, na linguagem jumenta que só eles parecem entender, não cuidando que com a sua condição de burros tornaram-se um perigo para os humanos que, mesmo sem terem outra opção, estão no meio do campo minado a tentar atravessá-lo chegando ao fim sem danos de maior, mesmo os colaterais. Mas os burros, por serem burros, não conseguem discernir do perigo em que se constituem, com os seus pinotes por entre as minas que começam a explodir e a atingir muitos humanos que não conseguem eximir-se dos estilhaços que os burros fizeram explodir, por serem burros, claro.
Por se julgarem muito afastados uns dos outros, alguns com um oceano a separá-los, os burros criam várias explosões ao mesmo tempo, em vários locais do campo minado, atingindo pessoas que se imaginam a si próprias em segurança face à distância e, que, por isso, também tinham começado a agir como se burros fossem zurrando que estão mais seguros do que os humanos que se encontram mesmo no centro do campo minado.
Mas uma boa parte das pessoas não ligam aos burros, porque sabem que eles são burros, agem como burros e que assim continuarão por toda a sua vida. Por isso o que querem é salvar-se sem serem atingidas, tomando para isso todas as precauções que sabem ser importantes para se protegerem das explosões e esforçando-se para que não sejam elas causadoras de nenhumas.
Ora, conta-se, no livro da filosofia ancestral jumentina que, certo dia, quando os burros, guias de todos os outros burros, achavam que já tinham atingido o pleno conhecimento estratégico para se protegerem das minas do campo minado, um dos burros que tinha a certeza desse seu conhecimento validado pelos guias dos burros, decidiu dar um pinote menos controlado, e zás, pisa uma mina e foi pelos ares.
Face às lesões sofridas por este burro, achou-se então que seria suficiente manter o burro no estábulo, para que ele se recuperasse com o tempo. Mas não, o tempo, provou-se então, não é amigo dos burros, e o burro, não havendo um hospital para burros disponível, teve que ser internado num hospital para humanos afim de receber tratamento intensivo que o pudesse salvar dos danos causados pela explosão que ele próprio, burro, originou.
Moral da história: quando quiserem adoptar um burro, certifiquem-se que o deixam bem amarrado à manjedoura para que ele não vá dar pinotes para um campos minado e provocar explosões que convoquem malefícios para os humanos. Porque, afinal, se confiamos num burro, sabendo que a sua condição de burro é fazer burrices, somos mais burros do que o burro. E o problema é haver demasiados burros aos pinotes no meio de campos minados por esse mundo fora. Por favor não confiem nunca  em burros ou em humanos que parecendo burros são mesmo o que parecem.



Jacinto Lourenço