A política feita por pessoas sérias caiu há muito no ridículo. Na ausência de gente séria a fazer política e a governar os países, um pouco pelo mundo fora, surgem os oportunistas, vigaristas, pantomineiros, criminosos, "palhaços", potenciais ditadores e radicais de esquerda ou direita, conforme os tempos ou as oportunidades. Mas não nos aparecem do vácuo, sempre estiveram entre nós sem que déssemos por eles, à espera de uma oportunidade. Devíamos ter aprendido as lições da História. Mas não, não aprendemos nada, nunca!
Se alguma coisa devíamos ter aproveitado da obra de pessoas como Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Estaline, Lenine, Trump, Perón, Mao e as suas sequelas, Kim Jong-un e demais família, Maduro, Putin e outras figuras que se foram levantando e instaurando ditaduras, ou simulacros de democracias mais ou menos ferozes por este mundo fora, era que, no caso particular das democracias, das legítimas, não se pode virar as costas ao inimigo e muito menos 'adormecer na forma'.
Já passaram mais de 80 anos desde o final da Segunda Guerra Mundial e 106 anos da Primeira dita Grande Guerra, a de 1914/18. E esperava-se, esperavam os povos que, depois disso, mesmo que o mundo não viesse a ser um lugar muito mais justo para se viver, que pelo menos fosse um lugar razoavelmente pacífico tendo em conta aquilo que se tinha visto em matéria de destruição material e de vidas humanas nas duas referidas guerras. Mas não, os sanguinários, os criminosos, os ditadores nunca dão a sua obra por terminada. Durante algum tempo apresentam-se aos povos com uma máscara de bondade, justiça e pacificação. Depois, quando todos estão entorpecidos pelos seus discursos inflamados, mostram a verdadeira face, como provam os tempos que vivemos na actualidade.
Globalizou-se o mundo dos negócios e das economias e eu sempre achei que isso era capaz de não ir dar bom resultado mais à frente. E não deu. A Europa, sempre meio 'naïf ', achou que era desta que iria viver em paz e segurança. Terminada a Segunda Guerra Mundial, com a ajuda do Plano Marshall gizado pelo General norte-americano de nome George Marshall, a Europa encontrou-se de novo com a normalidade de uma vida em paz relativa, com segurança e prosperidade possível, embora esta última não fosse um paradigma igualitário para todos os os países. Retalhada entre o Ocidente e Oriente, a fazer lembrar o Império Romano no seu ocaso, teve que conviver com o comunismo da URSS e os seus Gulag's durante mais de sete décadas até que Novembro de 1989 trouxe a alegria que os europeus queriam sentir: a queda do comunismo na Europa. E não tardou realmente muito até que a URSS se desagregasse e tombasse como um castelo de cartas. Mas a nossa alegria, a dos europeus que gostavam de ver uma Europa reunida sob a égide da democracia, não durou muito, e a expectativa dos Russos viverem finalmente em democracia durou ainda menos.
Putin, esse nome maldito que se ergueu e chegou num ápice à chefia dos poderes russos instalados nos grandes e dourados salões de São Petersburgo ou Moscovo, veio confrontar, de novo, a Europa com a guerra no seu território e, pior, com um possível alastramento que, em bom rigor, não poderá ser de todo descartado face à volatilidade do contexto em causa e dos muitos factores que o compõem.
Angela Merkel, no seu mais recente livro, "Liberdade", refere que, numa visita à Rússia e quando a caminho do aeroporto para tomar o avião para a Alemanha, acompanhada por Putin no carro deste, ele lhe apontava a paisagem que desfilava ao lado da estrada e as povoações que se avistavam, compostas de casas de madeira tipicamente russas, dizendo-lhe que "ali viviam pessoas com pouco dinheiro e que, por isso, podiam ser facilmente aliciadas"[...]. Que na Ucrânia, o governo norte-americano incentivou precisamente grupos de pessoas como aquelas [russas], a troco de dinheiro para que participassem na Revolução Laranja do Outono de 2004. Jamais permitirei que tal aconteça na Rússia".
Mais ou menos inferida, por este pequeno trecho do livro de Merkel, a mente doentia de Putin, podemos aquilatar da sua predisposição para despoletar uma guerra contra o Ocidente seja com que argumentação for. E, na verdade, a Ucrânia, para o ditador, foi apenas um pequeno pretexto para exibir a sua vontade de continuar a obra iniciada em 2014 na Crimeia. Era fácil, estava logo ali ao lado; mesmo a jeito de Putin mostrar ao Ocidente como e até onde poderia estender os seus tentáculos.
Nesta configuração de valores opostos, julgo que teremos que desenvolver a consciência de que Putin jamais irá deixar que americanos e europeus possam levar a Ucrânia a sair da sua alçada (da Rússia) e Trump não passará apenas de um 'Faits divers' para Putin ou, pior, de um breve aliado que ele utilizará para chegar mais depressa à conclusão dos seus desideratos político-territoriais. Não podemos adivinhar o futuro, só podemos assistir como ele vai sendo desenhado.
Talvez não seja descabido de todo deixar aqui um criativo e interessante adágio popular:
"Cesteiro que faz um cesto faz um cento, é só darem-lhe verga e tempo".
Jac. Lourenço. Janeiro, 2025