sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma Migalha de Sorte...



A   história de Portugal tem, apesar de tudo,  alguns  poucos registos que assinalam momentos em que o povo decidiu conduzir o seu próprio destino, de resto, o que é mais comum  é  deixarmo-nos embalar pelas cantigas  de uns quantos que traem, sistematicamente,  os verdadeiros interesses da nação portuguesa. Andamos há já quase quarenta  anos neste círculo vicioso isto, claro, se não contarmos com os dezasseis anos da Primeira República mais os quarenta e oito da ditadura e do Estado Novo  e, literalmente, passámos todo este tempo a "entregar o ouro ao bandido"  esperando sempre que alguém venha, providencialmente, qual D. Sebastião, resolver os nossos problemas.

 A verdade é que, no pós 25 de Abril de 1974  nunca deixámos de entregar o nosso presente e o futuro nas mãos dos  cleptocratas do costume e depois ainda  lá estamos para lhes bater palmas  na sua marcha triunfal esperando sempre  que algum deles  nos atire uma migalha de sorte. O problema é que o futuro dos povos não se contrói  à  sorte.                                                                  
Chegámos tarde à democracia e não conseguimos ainda decifrar muito bem os reais interesses dos que se acoitam nas quintas partidárias. Esses sim aprendem depressa os códigos da sobrevivência e fazem juz ao apodo  de chicos espertos  e à proverbial  fama de desenrascanço que normalmente o português se atribui a si próprio.  Deixamo-nos enganar ou damos espaço para que nos enganem. Somos enrolados em marés de promessas eleitorais e discursos acalorados que nos falam ao imediatismo do momento para depois, na glorificação dos vencedores, nos reservarem apenas o papel de aguentar  o férculo.                                      

Somos portugueses dum tempo geracional  incapaz de enfrentar os seus próprios medos e desafios, preferimos pagar, e bem, a quem o faça por nós. Falamos muito à mesa do café sobre os males que nos assolam mas não mostramos rasgo nem golpe de asa~para ir além disso. E há sempre alguém, alguma quinta partidária, algum carreirista da política, dispostos  a aproveitar essa fragilidade inscrita nos nossos genes, essa incapacidade de não conseguirmos construir a nossa própria história ou de sabermos  estar à altura da ancestral identidade de Portugal. 

Jacinto Lourenço