No plano da dimensão territorial de que falamos, a do Médio Oriente, se lançarmos o olhar numa perspectiva literária e histórica, que é facilmente escrutinada por todos, através da Bíblia, constatamos, de facto, que eram muitos os pequenos reinos que ocupavam grande parte do território, (embora entrecortados por alguns Impérios de génese local mais extensos e que foram surgindo ao longo da História, como por exemplo, e para citar apenas dois dos mais conhecidos, a Assíria e a Babilónia) sendo que, à semelhança da Europa, cada pequeno Estado não ocupava e dominava,
muitas vezes, mais do que a linha de um horizonte que o seu olhar alcançava e
que se estendia aos campos que pretendiam tomar como seus mesmo que sem qualquer
possibilidade prática de os conseguirem defender de ataques de exércitos
inimigos que, em sucessivas vagas e razias saqueavam, destruíam sementeiras,
matavam homens, mulheres e crianças para além de tomarem cativos para escravizar. Prática recorrente era também roubar rebanhos e arrasar e entulhar os poços de água, um bem que, como sabemos, é
vital em qualquer parte do mundo, em qualquer tempo, mas muito mais no Médio Oriente daquele tempo e mesmo ainda na actualidade.
Dos muitos povos e pequenos reinos que persistiam nos territórios a que se alude, um deles eram os Filisteus, que se concentravam numa faixa designada por “Philístia” ou Filisteia, como quisermos. A “Philístia” ou
Filisteia, refere-se à terra que cinco diferentes princípes filisteus habitavam,
e que é descrita em Josué no Cap.13:3, compreendendo o de Gaza, o de Asdode, o de
Asquelom, o de Gate e o de Ecrom. Familiarizámo-nos com alguns destes nomes que persistem em cidades israelitas actuais e que andam agora nas bocas do mundo.
Para complementar, e compreender um pouco melhor o período milenar que abordamos, convém referir previamente que o termo «fronteira», como o conhecemos na actualidade, não era algo que fosse reconhecido por quem quer que fosse por esse tempo. As eventuais «fronteiras» eram mais do que frágeis, eram absolutamente voláteis e à mercê de quem quisesse conquistar território, povoado, na maior parte dos casos apenas por pastores e rebanhos. Os métodos bárbaros para essa conquista não conheciam limites e quase todos se enquadravam no termo que usamos hoje para definir uma guerra bárbara que ultrapasse tudo o que diga respeito aos princípios mais básicos que devem reger a humanidade, mesmo que seja em guerra. Mas é aqui que voltamos ao fio da História e de como ele nos conduz até à designação de «Palestina» que, por muito que se pretenda e o reivindiquem aqueles que tomam partido contra Israel no momento actual, não designa um país, uma entidade política ou uma nação que tenham correspondência com um território, balizado por fronteiras definidas, como as denominamos no tempo presente. A designação «Palestina» aparece tardiamente, no plano da História antiga, já no tempo do domínio romano e deriva da transliteração do termo «Philístia» ou, se quisermos «Filisteia», como já vimos mais acima neste texto. Ou seja: um território (referimo-nos para já, apenas a Gaza) habitado por vários povos debaixo da designação de «filisteus», como o designa a Bíblia, por habitarem na Filisteia, e que, curiosamente, consta na Bíblia como a ser incluído na Canaã mais alargada que foi prometida por Deus a Abraão.
Jacinto Lourenço
Dezembro, 2023